terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Fernão Lopes - Biografia

Apesar de ser grande a sua influência na história, não se sabe muito sobre a vida de Fernão Lopes, cronista e historiador português. É provável que ele tenha nascido na cidade de Lisboa entre os anos de 1378 e 1383, filho de uma família de camponeses ou de mesteirais. Fernão foi guarda-mor da Torre do Tombo, tabelião geral do reino e cronista dos grandes reis de Portugal D. João I e D. Duarte, ainda também do infante D. Fernando. Alguns historiadores apelidaram o cronista como “pai” da História Portuguesa, já que ele escreveu importantes crônicas cruas e fatídicas do que acontecia em Portugal durante sua vida. Não há relatos, mas se acredita que Fernão Lopes haveria falecido por volta de 1460.
Fernão Lopes não foi um escritor de crônicas qualquer do século XV. Com seus textos ele sempre buscou mostrar a história como ela realmente estava acontecendo, ou seja, uma “verdade crua”. Lopes assumia uma posição de autoridade, isenção e distanciamento, sendo estes atributos capazes de detectar e controlar os subjetivismos dos discursos para, assim, chegar a tal verdade. Quanto ao estilo do português, ele representa uma literatura de expressão oral e de raiz popular. Tendo o próprio dito que em suas páginas não se encontra a beleza das palavras, mas a nudez da verdade. Das crônicas escritas por Fernão, apenas três são encontradas hoje em dia: Crônica de el-rei D. Pedro, Crônica de el-rei D. Fernando e Crônica de el-rei D. João

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

O Corvo - Edgar Allan Poe

Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu, caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho,
E disse estas palavras tais:
"É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais."

Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial dezembro;
Cada brasa do lar sobre o chão refletia
A sua última agonia.
Eu, ansioso pelo sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora.
E que ninguém chamará mais.

E o rumor triste, vago, brando
Das cortinas ia acordando
Dentro em meu coração um rumor não sabido,
Nunca por ele padecido.
Enfim, por aplacá-lo aqui no peito,
Levantei-me de pronto, e: "Com efeito,
(Disse) é visita amiga e retardada
Que bate a estas horas tais.
É visita que pede à minha porta entrada:
Há de ser isso e nada mais."

Minh'alma então sentiu-se forte;
Não mais vacilo e desta sorte
Falo: "Imploro de vós, — ou senhor ou senhora,
Me desculpeis tanta demora.
Mas como eu, precisando de descanso,
Já cochilava, e tão de manso e manso
Batestes, não fui logo, prestemente,
Certificar-me que aí estais."
Disse; a porta escancaro, acho a noite somente,
Somente a noite, e nada mais.

Com longo olhar escruto a sombra,
Que me amedronta, que me assombra,
E sonho o que nenhum mortal há já sonhado,
Mas o silêncio amplo e calado,
Calado fica; a quietação quieta;
Só tu, palavra única e dileta,
Lenora, tu, como um suspiro escasso,
Da minha triste boca sais;
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;
Foi isso apenas, nada mais.

Entro coa alma incendiada.
Logo depois outra pancada
Soa um pouco mais forte; eu, voltando-me a ela:
"Seguramente, há na janela
Alguma cousa que sussurra. Abramos,
Eia, fora o temor, eia, vejamos
A explicação do caso misterioso
Dessas duas pancadas tais.
Devolvamos a paz ao coração medroso,
Obra do vento e nada mais."

Abro a janela, e de repente,
Vejo tumultuosamente
Um nobre corvo entrar, digno de antigos dias.
Não despendeu em cortesias
Um minuto, um instante. Tinha o aspecto
De um lord ou de uma lady. E pronto e reto,
Movendo no ar as suas negras alas,
Acima voa dos portais,
Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas;
Trepado fica, e nada mais.

Diante da ave feia e escura,
Naquela rígida postura,
Com o gesto severo, — o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: "Ó tu que das noturnas pragas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Diz os teus nomes senhoriais;
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"
E o corvo disse: "Nunca mais".

Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atónito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Cousa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é seu nome: "Nunca mais".

No entanto, o corvo solitário
Não teve outro vocabulário,
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda a sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: "Perdi outrora
Tantos amigos tão leais!
Perderei também este em regressando a aurora."
E o corvo disse: "Nunca mais!"

Estremeço. A resposta ouvida
É tão exacta! É tão cabida!
"Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convivência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
Esse estribilho: "Nunca mais".

Segunda vez, nesse momento,
Sorriu-me o triste pensamento;
Vou sentar-me defronte ao corvo magro e rudo;
E mergulhando no veludo
Da poltrona que eu mesmo ali trouxera
Achar procuro a lúgubre quimera,
A alma, o sentido, o pávido segredo
Daquelas sílabas fatais,
Entender o que quis dizer a ave do medo
Grasnando a frase: "Nunca mais".

Assim posto, devaneando,
Meditando, conjeturando,
Não lhe falava mais; mas, se lhe não falava,
Sentia o olhar que me abrasava.
Conjeturando fui, tranquilo a gosto,
Com a cabeça no macio encosto
Onde os raios da lâmpada caíam,
Onde as tranças angelicais
De outra cabeça outrora ali se desparziam,
E agora não se esparzem mais.

Supus então que o ar, mais denso,
Todo se enchia de um incenso,
Obra de serafins que, pelo chão roçando
Do quarto, estavam meneando
Um ligeiro turíbulo invisível;
E eu exclamei então: "Um Deus sensível
Manda repouso à dor que te devora
Destas saudades imortais.
Eia, esquece, eia, esquece essa extinta Lenora."
E o corvo disse: "Nunca mais".

“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demónio que negrejas!
Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
Onde reside o mal eterno,
Ou simplesmente náufrago escapado
Venhas do temporal que te há lançado
Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo
Tem os seus lares triunfais,
Diz-me: existe acaso um bálsamo no mundo?"
E o corvo disse: "Nunca mais".

“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demónio que negrejas!
Profeta sempre, escuta, atende, escuta, atende!
Por esse céu que além se estende,
Pelo Deus que ambos adoramos, fala,
Diz a esta alma se é dado ainda escutá-la
No éden celeste a virgem que ela chora
Nestes retiros sepulcrais,
Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!”
E o corvo disse: "Nunca mais."

“Ave ou demónio que negrejas!
Profeta, ou o que quer que sejas!
Cessa, ai, cessa! clamei, levantando-me, cessa!
Regressa ao temporal, regressa
À tua noite, deixa-me comigo.
Vai-te, não fique no meu casto abrigo
Pluma que lembre essa mentira tua.
Tira-me ao peito essas fatais
Garras que abrindo vão a minha dor já crua."
E o corvo disse: "Nunca mais".

E o corvo aí fica; ei-lo trepado
No branco mármore lavrado
Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho.
Parece, ao ver-lhe o duro cenho,
Um demónio sonhando. A luz caída
Do lampião sobre a ave aborrecida
No chão espraia a triste sombra; e, fora
Daquelas linhas funerais
Que flutuam no chão, a minha alma que chora
Não sai mais, nunca, nunca mais!

- Edgar Allan Poe

Livros De Linhagens - Definição

Os Livros de Linhagens, também designados de "nobiliários", são livros que apresentam as relações genealógicas de membros de famílias nobres. Foram comuns no passado medieval da Europa, particularmente na península Ibérica.
A função dos Livros de Linhagens era prática, servindo para regular casamentos consanguíneos e assegurando os direitos hereditários dos membros de uma família nobre e dos seus descendentes, além de conservar a memória dos antigos feitos dos fidalgos (filhos d'algo). Muitos destes livros transmitem um importante legado histórico, cultural e literário.

Cantigas De Amor - Definição

As cantigas de amor, direccionadas do homem para a mulher, retratavam o sentimento amoroso masculino. Consistiam em cantigas lamentativas, de um amor declarado inatingível. Nas cantigas de amor o trovador se dirigia com vassalagem amorosa à dama que adorava, tratando-a de mia dona ou mia senhor. Mostravam uma louvação constante da beleza da mulher. Embora originárias da Provença, as cantigas de amor portuguesas ganharam nova dimensão e maior sinceridade.
A estrutura da cantiga de amor seguia sempre um determinado padrão: as estrofes sempre tinham um número determinado de versos (geralmente entre dois e cinco), apresentavam, muitas vezes, estribilho e refrão e a métrica era bem marcada.

O amor cortês apresenta-se como ideal, como aspiração que não tende à relação sexual mas surge como estado de espírito que deve ser alimentado. Pode-se definir, de acordo com a teoria platónica, como ideia pura; aspiração e estado de tensão por um ideal de mulher ou ideal de amor; amor fingimento; enquanto o amor provençal se apresenta mais fingido, de convenção e produto da imaginação e inteligência, nos trovadores portugueses, aparece, supostamente, mais sincero, como súplica apaixonada e triste.

Há uma variedade nas cantigas de amor:
Canções de Mestria (perfeitas obras de mestres). Nelas existem:

  • Dobre - Consiste na repetição da mesma palavra em lugares simétricos da estrofe.

  • Mozdobre - Como a dobre, é a repetição da mesma palavra em sítio simétrico da estrofe, jogando, porém, com as suas flexões.

  • Atafinda -  Consiste na ligação do período ou da oração que terminam no meio do verso ou da estrofe seguinte.

  • Finda -  É uma espécie de conclusão em dois ou três versos, que resume a cantiga.

  • Verso Perdudo - É um verso introduzido no meio da estrofe, sem correspondência rimática.

Tenções - São diálogos entre dois trovadores nos quais um procura contrariar o outro.

Desacordos - Eram composições multilingues nas quais se exprimiam conflitos de amor.


Prantos - São lamentações pela morte de alguém ou então desabafos de coitas de amor.


Cantigas de refrão - São cantigas de amor onde aparece o refrão, típico das cantigas de amigo.

Cantiga De Amigo - Exemplo

Non chegou, madre, o meu amigo,
e hoj'ést'o prazo saído!
     ai, madre, moiro d'amor!

Non chegou, madre o meu amado
e hoj'ést'o prazo passado!
     ai, madre, moiro d'amor!

E hoj'ést'o prazo saído!
Por que mentiu o desmentido?
     ai, madre, moiro d'amor!

E hoj'ést'o prazo passado!
Por que mentiu o perjurado?
     ai, madre, moiro d'amor!

Por que mentiu o desmentido
pesa-mi, pois per si é falido.
     ai, madre, moiro d'amor!

Por que mentiu o perjurado
pesa-mi, pois mentiu a seu grado.
     ai, madre, moiro d'amor.

Cantigas De Amigo - Definição

Na lírica medieval galego-portugues uma cantiga de amigo é uma composição breve e singela posta na voz de uma mulher apaixonada. Devem o seu nome ao facto de que na maior parte delas aparece a palavra amigo, com o sentido de pretendente, amante, esposo.


 voz poética é a de uma jovem que relata as suas vivências amorosas, ora num monólogo, ora num diálogo com suas amigas, irmãs ou inclusive com a mãe. Os estados de ânimo são diversos e incluem a alegria pela chegada do amigo, a tristeza pela sua ausência ou a ansiedade pelo seu regresso, o desejo de vingança, ciúmes, etc. Os ambientes nos qual decorrem são o campo, o mar ou a casa: a fonte, onde foram procurar água ou lavar o cabelo, o rio ou a peregrinação.

Existem vários tipos de cantigas de amigo: 
  • Pastorelas - assuntos campestres, diálogo com a natureza.
  • Romarias - assuntos relacionados às festas religiosas.
  • Barcarolas - assuntos relacionados ao mar, rios e lagos.
  • Bailias - assuntos ligados à dança.

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