segunda-feira, 9 de maio de 2016

Sobre: Fernão Mendes Pinto

Fernão Mendes Pinto nasceu em Montemor-o-Velho, cerca de 1510, no seio de uma família que beneficiava de ligações a nobres na corte de D. Manuel e D. João III. Essa circunstância pode explicar a vinda do escritor para Lisboa, em Dezembro de 1521, onde entrou ao serviço de D. Jorge de Lencastre, Mestre de Santiago. Inconformado com a estreiteza dos proveitos que conseguia angariar e com os olhos postos na fortuna, resolveu embarcar, em 11 de Março de 1537, para a Índia, onde chegou em Setembro do mesmo ano.

A Esparsa (Exemplo e Análise)

Trova de tema amoroso que não é precedida nem de glosa, nem de mote; apenas é constituída por uma única estrofe de redondilha maior, com oito a dezasseis versos, generalizada na Península Ibérica a partir do século XV e presente no Cancioneiro Geral.

Ao desconcerto do mundo

Os bons vi sempre passar
no mundo graves tormentos;
e, para mais m´espantar,
os maus vi sempre nadar
em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
o bem tão mal ordenado,
fui mau, mas fui castigado:
Assi que, só para mim
anda o mundo concertado


Na reflexão de Camões (neste poema) a ordem social instituída é injusta, por isso diz que o Mundo está desconcertado. O que seria justo era os bons serem recompensados e os maus serem castigados. No entanto, não é isso que acontece. Os bons sofrem e vivem num mundo de “graves tormentos” e os maus acabam por conseguir tudo o que querem vivendo assim num “mar de contentamentos”.
O poeta tenta alcançar o “bem tão mal ordenado”, que é o mal, para se inserir na ordem social desconcertada e assim receber o bem e encontrar-se também num “mar de contentamentos”. Esta foi uma tentativa falhada, pois ao ser mau o poeta foi logo castigado. Porquê?
Apesar de ter feito o que fazem os maus, ele não acreditava no que estava a fazer. E quem não acredita no que faz não pode ser bem sucedido. As pessoas genuinamente boas não conseguem ser más, pois vai contra os seus valores éticos e morais. O poeta concluiu então que só para ele é que “anda o mundo concertado”.

A Cantiga (Exemplo e Análise)

A cantiga constitui uma composição medieval galego-portuguesa de tema religioso ou profano, destinada a ser cantada. Formalmente, corresponde a uma composição poética composta por um mote de quatro ou cinco versos e por uma ou várias glosas de oito, nove ou dez versos, que repetem no final, pelo menos, do último verso do mote.

Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos

Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

Neste poema, o sujeito poético pretende comparar os olhos da sua amada com a Natureza, mas os olhos referem-se à amada no seu todo.
O poeta cita a beleza do campo e menciona que as ovelhas mantêm-se deste, enquanto ele se mantém das lembranças do seu coração. Sente saudade, tristeza e nostalgia.
Por último, o sujeito poético refere que o gado pasta com alegria nos campos, no entanto explica que o que eles estão a comer são as graças do seu coração, ou seja, corresponde à beleza dos olhos da sua amada.

domingo, 1 de maio de 2016

O Vilancete (Exemplo e Análise)

Este tipo de poema tem um mote - o início do poema que, na música, funciona como refrão - seguido de uma ou mais estrofes - as voltascoplas ou glosas - cada uma com 7 versos.
A diferença entre o vilancete e a cantiga depende do número de versos no mote: se houver 2 ou 3 é um vilancete, se houver 4 ou mais versos, então é uma cantiga.
Cada verso de um vilancete está normalmente dividido em cinco ou sete sílabas métricas (medida velha). Se o último verso do mote se repetir no fim da estrofe, diz-se que o vilancete é perfeito.
Vejamos agora, como exemplo, o vilancete abaixo:

Descalça vai para a fonte
Lianor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.

Vemos que o mote aqui descreve a ação geral realizada por Leonor, a amada do sujeito poético; e na volta, o poeta apenas fala do assunto mostrado no mote, que é a sua amada.
Na volta, o sujeito poético faz a descrição da figura feminina tratada no mote, descrevendo imensamente a beleza física e psicológica da sua amada, demonstrando assim o fascínio que ele (o poeta) tem por ela (a amada).
O eu-lírico, como já dito antes, apresenta Leonor fisicamente e psicologicamente pelo uso de expressões como:
formosa;
mãos de prata;
cinta de fina escarlata;
cabelos de ouro entrançado.
Ele também usa a seguinte hipérbole: "Tão linda que o mundo espanta."; onde o sujeito poético elogia a beleza da sua amada de forma intensa e exagerada.

O Retrato da Mulher na Lírica Camoniana

O retrato feminino é um tema recorrente na poesia lírica de Camões, descrevendo o sujeito poético a mulher ora na sua configuração ideal ora na sua existência mais concreta.
O Renascentismo assenta em características como a harmonia e a perfeição, que perpassavam todas as artes, e o retrato da mulher ideal na pintura e na literatura, leia-se no modelo petrarquista, não é exceção. Este modelo define a mulher como possuidora de cabelos loiros, olhos verdes e faces rosadas.
À perfeição física corresponde uma perfeição psicológica de modo que a mulher petrarquista apresenta um
espírito calmo e representa uma mulher de poder superior, que exerce um domínio mágico, que cativa e submete o sujeito lírico.
Camões soube conciliar as nossas tradições literárias, desde a donzela da cantiga de amigo, passando pela divinização da mulher, até ao modelo ideal feminino de Quinhentos.

Popular Posts

Recent Posts

Unordered List

Text Widget

Com tecnologia do Blogger.

To get the latest update of me and my works

>> <<