Fernão Mendes Pinto nasceu em Montemor-o-Velho, cerca de 1510, no seio de uma família que beneficiava de ligações a nobres na corte de D. Manuel e D. João III. Essa circunstância pode explicar a vinda do escritor para Lisboa, em Dezembro de 1521, onde entrou ao serviço de D. Jorge de Lencastre, Mestre de Santiago. Inconformado com a estreiteza dos proveitos que conseguia angariar e com os olhos postos na fortuna, resolveu embarcar, em 11 de Março de 1537, para a Índia, onde chegou em Setembro do mesmo ano.
segunda-feira, 9 de maio de 2016
A Esparsa (Exemplo e Análise)
Trova de tema amoroso que não é precedida nem de glosa, nem de mote; apenas é constituída por uma única estrofe de redondilha maior, com oito a dezasseis versos, generalizada na Península Ibérica a partir do século XV e presente no Cancioneiro Geral.
Ao desconcerto do mundo
Ao desconcerto do mundo
Os bons vi sempre passar
no mundo graves tormentos;
e, para mais m´espantar,
os maus vi sempre nadar
em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
o bem tão mal ordenado,
fui mau, mas fui castigado:
Assi que, só para mim
anda o mundo concertado
Na reflexão de Camões (neste poema) a ordem social instituída é injusta, por isso diz que o Mundo está desconcertado. O que seria justo era os bons serem recompensados e os maus serem castigados. No entanto, não é isso que acontece. Os bons sofrem e vivem num mundo de “graves tormentos” e os maus acabam por conseguir tudo o que querem vivendo assim num “mar de contentamentos”.
O poeta tenta alcançar o “bem tão mal ordenado”, que é o mal, para se inserir na ordem social desconcertada e assim receber o bem e encontrar-se também num “mar de contentamentos”. Esta foi uma tentativa falhada, pois ao ser mau o poeta foi logo castigado. Porquê?
Apesar de ter feito o que fazem os maus, ele não acreditava no que estava a fazer. E quem não acredita no que faz não pode ser bem sucedido. As pessoas genuinamente boas não conseguem ser más, pois vai contra os seus valores éticos e morais. O poeta concluiu então que só para ele é que “anda o mundo concertado”.
A Cantiga (Exemplo e Análise)
A cantiga constitui uma composição medieval galego-portuguesa de tema religioso ou profano, destinada a ser cantada. Formalmente, corresponde a uma composição poética composta por um mote de quatro ou cinco versos e por uma ou várias glosas de oito, nove ou dez versos, que repetem no final, pelo menos, do último verso do mote.
Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.
Neste poema, o sujeito poético pretende comparar os olhos da sua amada com a Natureza, mas os olhos referem-se à amada no seu todo.
O poeta cita a beleza do campo e menciona que as ovelhas mantêm-se deste, enquanto ele se mantém das lembranças do seu coração. Sente saudade, tristeza e nostalgia.
Por último, o sujeito poético refere que o gado pasta com alegria nos campos, no entanto explica que o que eles estão a comer são as graças do seu coração, ou seja, corresponde à beleza dos olhos da sua amada.
domingo, 1 de maio de 2016
O Vilancete (Exemplo e Análise)
Este tipo de poema tem um mote - o início do poema que, na música, funciona como refrão - seguido de uma ou mais estrofes - as voltas, coplas ou glosas - cada uma com 7 versos.
A diferença entre o vilancete e a cantiga depende do número de versos no mote: se houver 2 ou 3 é um vilancete, se houver 4 ou mais versos, então é uma cantiga.
Cada verso de um vilancete está normalmente dividido em cinco ou sete sílabas métricas (medida velha). Se o último verso do mote se repetir no fim da estrofe, diz-se que o vilancete é perfeito.
Vejamos agora, como exemplo, o vilancete abaixo:
A diferença entre o vilancete e a cantiga depende do número de versos no mote: se houver 2 ou 3 é um vilancete, se houver 4 ou mais versos, então é uma cantiga.
Cada verso de um vilancete está normalmente dividido em cinco ou sete sílabas métricas (medida velha). Se o último verso do mote se repetir no fim da estrofe, diz-se que o vilancete é perfeito.
Vejamos agora, como exemplo, o vilancete abaixo:
Descalça vai para a fonte
Lianor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.
Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.
Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.
Vemos que o mote aqui descreve a ação geral realizada por Leonor, a amada do sujeito poético; e na volta, o poeta apenas fala do assunto mostrado no mote, que é a sua amada.Na volta, o sujeito poético faz a descrição da figura feminina tratada no mote, descrevendo imensamente a beleza física e psicológica da sua amada, demonstrando assim o fascínio que ele (o poeta) tem por ela (a amada).O eu-lírico, como já dito antes, apresenta Leonor fisicamente e psicologicamente pelo uso de expressões como:formosa;mãos de prata;cinta de fina escarlata;cabelos de ouro entrançado.Ele também usa a seguinte hipérbole: "Tão linda que o mundo espanta."; onde o sujeito poético elogia a beleza da sua amada de forma intensa e exagerada.
O Retrato da Mulher na Lírica Camoniana
O retrato feminino é um tema recorrente na poesia lírica de Camões, descrevendo o sujeito poético a mulher ora na sua configuração ideal ora na sua existência mais concreta.
O Renascentismo assenta em características como a harmonia e a perfeição, que perpassavam todas as artes, e o retrato da mulher ideal na pintura e na literatura, leia-se no modelo petrarquista, não é exceção. Este modelo define a mulher como possuidora de cabelos loiros, olhos verdes e faces rosadas.
À perfeição física corresponde uma perfeição psicológica de modo que a mulher petrarquista apresenta um
espírito calmo e representa uma mulher de poder superior, que exerce um domínio mágico, que cativa e submete o sujeito lírico.
Camões soube conciliar as nossas tradições literárias, desde a donzela da cantiga de amigo, passando pela divinização da mulher, até ao modelo ideal feminino de Quinhentos.